sábado, 4 de junho de 2016

Décimo sexto dia


Há um “antes” e um “depois” do triste dia em que, de manhã, chegou a notícia dada pela Isabel Maria de forma nua e crua: “o meu pai morreu… Celso! … morreu… o meu pai!
Foi como uma bomba que me deixou atordoado.
Desde então, a figura do pai segundo, não me sai do pensamento! Médico talentoso, introvertido [como é próprio de um ilhéu], nutria um profundo vínculo afectivo à terra natal, de que destacava a invejável vida calma e paisagem bucólica.
Denotou sempre humildade nas suas opiniões e no viver quotidiano com o próximo: tinha uma auréola de humildade que só costumamos ver nos homens sábios!
Natural de Santo António Nordestinho,  São Miguel, gostava de, nos últimos dias da vida, regressar à origem,  como fazem os elefantes quando pressentem a proximidade da morte. Infelizmente não foi possível a realização do sonho. Quem sabe um dia...

Que saudades tenho do tempo que com ele convivi, que, à distãncia, me parece tão exíguo e tão pouco!
Hoje buscava apontamentos para alinhar a presente mensagem sobre “o avô Cid” (é assim que os meus filhos o tratam), quando, vamos lá saber porquê, dou com a reprodução do quadro Perro semihundido de Góia, adquirida no Museu do Prado (16/03/2013), há muito tempo esquecida no saco.

Não sei se foi por mera coincidência ou por alerta do Além, logo pensei que a imagem continha um qualquer Sinal daquele que já pertencia ao mundo dos deuses.
 A busca no Google transmitiu o significado da pintura: Esta obra puede representar, al mismo tiempo el todo y la nada. La nada, ya que representa únicamente la imagen de un perro en absoluta soledad y el todo porque en esa imagen, aparentemente tan simple, se representa el mundo en sí, es decir, la presencia de un ser vivo, en este caso, un perro, pero pudiera ser también un hombre, en el universo y todas las posibilidades que tiene el estar en ese universo, tales como experimentar las sensaciones humanas como el miedo, la soledad, el vacío, o bien, la libertad, la lucha, etcétera.Patricia Ortiz Lozano, estudia la Maestría en Arte Contemporáneo en la Universidad de las Artes, https://cafecin.wordpress.com/
Sublinho:  “(…) miedo, la soledad, el vacío, o bien, la libertad, la lucha… paro, e digo para mim mesmo “cá está…. uma perfeita sintonia entre o quadro e “aquele que os meus filhos tratam por avô Cid”; e destaco a batalha hercúlea e longa que teve de travar no seu quotidiano e que, imperceptivelmente, o consumiu... 

Aconteceu ao décimo sexto dia depois do avô Cid.
P.S. gostava muito do Proutsy, cão que lhe vinha fazendo companhia nos últimos anos: ambos se ajudavam mutuamente nas horas de solidão.



Elaborado em 1 de Junho de 2016

2 comentários:

  1. Como o mundo é pequeno e as coisas se interligam!... (Revivo a experiência de momentos).
    Força!

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  2. Há pessoas muito especiais, de uma inteligência rara e saber único... é preciso ir às entrelinhas para descobrir a sua essência! Essas pessoas nunca morrem na totalidade!Uma parte Fica em nós...cabe-nos transmiti-la aos outros! para que a sua sabedoria perdure no tempo e na memória de todos!
    Beijinhos, Petrus

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