sábado, 11 de julho de 2015

ORÁCULO


 

“ Tem sido um começo de ano difícil. Há ansiedade no ar, nos gabinetes e corredores das instituições europeias. Pouco mais se tem feito, para além da gestão da rotina. Não deixar a máquina emperrar parece ser a única preocupação. Mas faltam o entusiasmo, a determinação e a coragem. Ninguém quer fazer ondas. Tudo isto reflecte a desorientação em que a Europa se encontra.

(…) Já não se fala de convergências políticas, de ambições supranacionais, nem da «casa europeia». É tudo muito mais terra-a-terra. Enveredar por esta opção, como agora está a acontecer, faz cair Bruxelas das nuvens e os eurocratas do pedestal onde muitos anos de retórica grandiloquente os haviam colocado.

“A reorientação a que se assiste traz consigo um retorno a uma Europa com um motor a dois cavalos: a França e a Alemanha. Um regresso à história, em que a burguesia belga, neste caso Herman Van Rompuy, faz, como sempre fez, a ponte entre vizinhos. O resto é periferia. Só que a periferia pode, como agora acontece com a Grécia, dar origem a ondas de choque. A crise grega põe em causa o pacto de estabilidade e enfraquece de modo significativo, a moeda única.

“Nunca se escrevera tanta opinião tão pessimista sobre o futuro do Euro, como nas últimas semanas. As declarações de solidariedade recentes não chegam para fazer esquecer que a Grécia tem, a curto prazo, que ser capaz de responder aos enormes encargos financeiros que chegam a vencimento. Conseguirá? Como também terá de adoptar políticas macroeconómicas com grandes custos sociais. Haverá suficiente força política em Atenas para que isso aconteça?

Imaginem! Este fragmento é tirado da crónica de VICTOR ÂNGELO na Visão de 25 DE FEVEREIRO DE 2009 - leram bem: 2009! Impressiona pela sua actualidade. Parece coisa de “adivinhação”, não só pelos vendavais que assolam a Zona Euro, mas em especial pela crise grega e a séria ameaça de contaminação dos membros periféricos. Finaliza assim:

“Neste momento a impressão que fica é a de que o trem europeu saiu da estação, o Tratado de Lisboa deu o sinal de partida, mas sem que o destino da viagem seja claro. Nem mesmo os nomes das estações intermédias são conhecidos do grande público. Os poucos passageiros a bordo parecem gente de um outro mundo, sem qualquer relação próxima com o cidadão europeu. É uma elite desligada das massas, a viajar em carruagens de primeira classe, num comboio chamado incerteza”.

1 comentário:

  1. Bela finalização. Aguardam-nos incertezas, mas nem por isso deixamos de viajar em primeira classe.

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