sábado, 13 de julho de 2013

Da cor do ouro

De ontem para hoje, a situação não melhorou…  o mal não foi debelado…,  - dita a veterinária. … continua a hemorragia, …vai reagindo bem à medicação, damos-lhe o alimento diluído… estamos a fazer tudo …, mas…, - lembra com um semblante sério e preocupado, …trata-se  de cuidados paliativos...

Olho para o interior da gaiola e vejo laivos de sangue vivo, dispersos pelo comedouro [o local onde tantas vezes vi a hamster em busca de comida com que enchia as bochechas ou logo ali remoía, toda curvada numa encantadora posição].
O filho mais velho, seu tutor, pergunta sobre as possibilidades de recuperação…
“Infelizmente…
As dúvidas e hesitações da médica preocupam-no, mas não lhe retiram a esperança.
E o filho mais novo também acredita … ele, sim, que sempre tão bem cuidou  dela, muito especialmente naqueles sete meses, em que o irmão esteve na Faculdade.
“Vermelho vivo” – a imagem persiste… invade a alma, “sangue do meu sangue”- vem à memória a frase da canção que tantas vezes ouvi na rádio. E não contive as lágrimas que me banharam o rosto.
- Não sei como querem fazer?! – pergunta a médica.
- Continua internada – afiança logo a mãe que sabe que em casa não lhe poderíamos dar a assistência especializada como a do Hospital.
E assim aconteceu.
Saímos abalados e incrédulos com aquilo que estava a acontecer à Áurea, prostrada e irreconhecível… e logo ela, geniquenta criatura!
Difíceis as horas que iam passando sem boas novas.
“Sangue do meu sangue…” – a música matraqueava na cabeça e fazia jus aos laços afectivos,   que nos ligavam áquela “menina”.
Nessa noite em casa a noite não caiu.
No dia seguinte, ao meio-dia, antes da refeição, no Casablanca, a notícia caiu que nem bomba:  e, então, ali mesmo, unidos pelo pão e pelo amor eternizado no filme, dissemos até sempre ao mais simpático e querido dos seres vivos.

6 comentários:

  1. Lamento Amigo. Especialmente pelos filhos. Os Hamsters vivem poucos anos.
    Quando o meu filhote tinha 4 anos teve uma. Toda de cor pérola linda que ele baptizou de Branca. Vivia com ela em cima do ombro, em casa ou na rua. Só estava na gaiola quando ele estava na escolinha e quando dormia. Quando morreu, ele teve um grande choque. Meteu-a numa caixa de sapatos e pediu ao pai para ir enterrá-la perto do rio. Nunca mais quis um animal de estimação e acredite que ainda hoje se emociona quando falamos nela e já tem 33 anos.
    Um abraço e bom fim de semana

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  2. Belíssima criatura, muitas vezes dando a pura sensação de que se tratava de um ser racional, e que sempre impressionou com cada pequeno gesto, desde o facto de se empoleirar nas grades e se divertir como um "macaquinho" até ao facto de por vezes ir colocar a comida no comedouro quando esta lhe era dada fora dele, passando por infinitas outras situações encantadoras. Bonito texto, Petrus, que demonstra o carinho mútuo existente durante tanto tempo, mas, acima de tudo, é importante relembrar que esse carinho e emoção permanecem e permanecerão para sempre. A Áurea continua presente (:

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  3. os animais são membros da família
    de pleno direito e amor


    agora permanecem as recordações dos dias felizes


    um abraço

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  4. O relato é poético e, apesar da realidade triste, joga maravilhosamente as palavras.

    (Já perdi animais domésticos e é assim mesmo.)

    Beijinho e resto de boa semana.

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  5. Venho aqui, de novo, agradecer a visita e desejar um excelente fim de semana.

    Beijinho

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  6. Olá meu amigo!
    Vá lá uma actualizaçãozinha...rsrs

    Bom fim-de-semana

    bjs

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