quarta-feira, 14 de março de 2012

Não posso adiar o amor para outro século

03.03.2012


“Hoje não quero falar de futebol! Hoje o que quero é felicitar-te pela celebração do aniversário! Oxalá que, quando fores ve…velhi… (desculpa, não é a palavra que queria dizer!...), oxalá que, nessa altura, tenhas saúde e os filhos a teu lado, os filhos… em harmonia. V a i  j a n t a r  f o r a  e  d i v e r t e – t e.  É  o  q u e  i m p o r t a !

O pai, cansado e ofegante, fala ao telefone,  devagar. Parco nas palavras, mas muito claro e convincente em tudo quanto diz, como quem pretende transmitir algo de importante, essencial e, diria até, existencial. Parece-me que, no momento, à distância de 300 quilómetros, tenta dar o melhor que tem. Sinto, então, que, através do cabo telefónico, desagua à minha frente uma torrente de calor humano que toma conta de mim. Compreendo logo que só a fonte do amor é capaz de semelhante milagre!

Que homem de coragem! Que desprendimento em relação às coisas terrenas! Há dias, numa visita que fizémos, deu um crucifixo à filha, dizendo-lhe que o objecto, para ele, tinha muito valor e que por isso gostava de lho dar, interessante é dar o que gostamos - frisou.

Coisas simples, de extremo significado, que tocam a alma!



14.03.2012

Hoje vai à consulta de cardiologia no Hospital de Santa Maria. Mais um passo na difícil convalescença da fibrilação auricular que o levou ao internamento hospitalar!
Vai seguro, porque o médico é professor catedrático, uma sumidade na área da especialidade, sempre rodeado de médicos aprendizes [ como acontecia no seu tempo ao iniciar a carreira de estomatologista - faz questão de relembrar].
No momento em que escrevo o presente texto, recordo, emocionado, os dois episódios supra relatados; o eco das suas convictas palavras ressoa como uma benção!
Espero que receba boas novas!
Com certeza vai correr bem.
Que lição, meu Deus!



*O título é “roubado” ao poema de António Ramos Rosa seleccionado por Maria Alzira Seixo na antologia “os poemas da minha vida”, edição do PÚBLICO, Junho de 2005.