quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ave da esperança

Passo a noite a sonhar o amanhecer.
Sou a ave da esperança.
Pássaro triste que na luz do sol
Aquece as alegrias do futuro,
O tempo que há-de vir sem este muro
De silêncio e negrura
A cercá-lo de medo e de espessura
Maciça e tumular;
O tempo que há-de vir – esse desejo
Com asas, primavera e liberdade;
Tempo que ninguém há-de
Corromper
Com palavras de amor, que são a morte
Antes de se morrer.




MIGUEL TORGA
Penas do Purgatório
(Poemas)
3ª Edição

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A aceitação dos dias

Dá-se um rasgão no pálido do céu. Há dias
assim. Há dias em que sai pelo céu
uma ponta da alma. Há dias misteriosos
que entendemos, sem saber porquê.
Dias de imensa simplicidade em existir,
rosados, claros, incomensuráveis. De exercício
no abrir das labaredas. De aceitação
pura do branco. De permitir uma dança,
quebrada pelos rins, de todo o olhar. Do
esplendor radiado da invenção, em que flui
a lava do momento, a garra
cravada pelo dia. Mozart é
isso.

ISABEL CRISTINA PIRES
In Divina Música,
Antologia de Poesia, 2009

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A casa d'avó

Portão, portas e janelas escancaradas. O interior vazio, sem vivalma.
Entramos? Como podemos, se a casa já não nos pertence?! Toda a aldeia sabe que foi vendida!
Após breves instantes de hesitação, a curiosidade ditou mais alto as suas regras.
Os degraus da escadaria exterior e o patim da entrada estão cobertos de terra, cal caída das paredes, cacos de telha, cigarros fumados… e pó, muito pó… por todo o lado! Tinham-me relatado que por ali, à noite, deambulavam vagabundos e mulheres de mau porte, mas não acreditei. Um exagero, pensei, ou até, quem sabe, pura invenção. Mas não, agora os vestígios não enganavam. A verdade, nua e crua, entrava pelos olhos dentro… e, sem dó nem piedade, infligia rude golpe interior.
- Por que diabo o comprador consentira aquele estado de completo abandono?
Na ocasião em que foi posta à venda, vários vizinhos se mostraram interessados, mas nenhum cobriu a oferta do militar. Um ilustre desconhecido. Dele apenas se sabia que se ausentara do país, em missão de ajuda à Bósnia Herzegovina. Nunca habitou a casa, nem sequer, alguma vez, lá pernoitou! Estranho!
Avançamos pelo corredor principal, a medo, não vá o soalho de madeira desabar a qualquer momento! A meio, surge-nos a extensa varanda de cimento armado, que sobrevoa o páteo interior até à cozinha. Sentimos a segurança física de que precisávamos para prosseguir aquela viagem no tempo.
Uma dúvida, porém, me assaltou: como posso permanecer tão sossegado em casa que deixou de ser da família?
Páro para reflectir, mas sou impedido de o fazer por uma algazarra:
- Pai, que bonito, nunca vi coisa assim!
A estupefacção dos filhos envaidece-me. E, num ápice, vem tudo á memória: o avô, a avó e a tia Olinda. Os momentos que com eles vivi. Tanta brincadeira e correria. Tantas ceias naquela varanda, ao ar fresco da noite. Tanta aventura.
Não queria acreditar naquilo que os olhos viam!
Onde está o lugar de refúgio quando temia o castigo dos pais por alguma asneira cometida?! E a bela estante dos primeiros livros que li?! E o velho Telefunken que inundava a cozinha de belas canções? E a mesa de Natal à beira do fogão de lenha... e a casa alta, lugar nobre destinado a receber o Senhor na Páscoa?
Meu Deus! Nada existe. Tudo reduzido a pó!
Naquele instante, o mundo desabou a meus pés!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sernancelhe

Sernancelhe, sábado, numa noite de fim de Verão.
Sobe ao palco o Duo de Sousa, com guitarra portuguesa e clássica, que nos brinda com um som intenso, límpido e cristalino, perfeitamente adequado ao rigor e exigência dos momentos iniciais de um grandioso concerto!
Segue-se-lhe a actuação da “Guitarrofonia", um ensemble de guitarras constituído por alunos e professores de diversos Escolas do Ensino Especializado da Música.
Interpreta, de forma sublime, “The Typewriter”, obra de Leroy Anderson, em que o instrumento/solo é uma máquina de escrever. O som da máquina combina maravilhosamente com o das guitarras! Nunca visto!
E, com este espectáculo, encerrou o 13º Concurso e Festival de Guitarra Clássica – 2011 (de 7 a 10 de Setembro).
É sempre um prazer regressar a uma terra que se orgulha de manter bem vivas as tradições. Vila cheia de pergaminhos históricos, com pelourinho, igreja matriz de traça românica, muralha do antigo castelo, solares e outros edifícios medievais muito bem conservados.
O auditório encheu por completo. Muita gente nova, crianças e famílias inteiras marcaram presença!
Noite mágica que, por breves instantes, transformou aquele lugar de música e encantamento no centro da terra!
Fico á espera que ilumine e transforme também as mentes dos responsáveis pela cultura deste país.
- Quando será que se convencem que os acontecimentos deste género e envergadura precisam de ser mais apoiados?

domingo, 21 de agosto de 2011

10 perguntas

A amiga Andy do blog "Lua" lançou-me o desafio 10 perguntas 10 respostas 10 amigos, que logo aceitei com todo o gosto. Algumas respostas conduziram-me a lugares que considerava esquecidos na gaveta da memória, mas que, afinal, ao primeiro toque de campainha, saltaram cá para fora, plenos de vivacidade. Os livros acompanham-nos e integram a nossa vida. Falar deles é uma tarefa que, por vezes, nos conduz a alguma reflexão, mas que, ao mesmo tempo, nos diverte imenso. Foi um jogo que me deu muito prazer! Obrigado, minha querida amiga. Um grande beijinho!
Aqui vão as respostas.

1 - Existe um livro que relerias várias vezes?
Regresso frequentemente ao Pensar de Vergílio Ferreira.
2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Existem livros que começo a ler e, por razões várias, não me agradam. Não os ponho logo de parte, mantenho-os em cima da mesa à espera que o interesse se renove. Por vezes acontece que outros se lhe sobrepõem, e, volvido determinado período de tempo, vão directamente para a prateleira, sem mais insistência.
3 - Se escolhesses um livro para ler no resto da tua vida, qual seria?
A obra da Sophia de Melo Breyner Andresen. A sua criação literária é uma riqueza que fica bem em todas as etapas da vida.
4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, Ternos Guerreiros da Agustina Bessa-Luís, entre outros que aguardam na estante o seu momento.
5 - Que livro leste cuja «cena final» jamais conseguiste esquecer?
Nenhum em particular.
6 - Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual o tipo de leitura?
Não. No meio rural em que passei a infância, o livro era pouco acessível, mas lembro-me de ter lido alguns contos (o Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro, por exemplo) e as fábulas de Fedro, Esopo e La Fontaine que me chegavam através da Biblioteca Itinerante da Fundação Gulbenkian. Ainda hoje mantenho um gosto especial pela narrativa deste género literário.
7 - Qual o livro que achaste chato, mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Logo que me convenço que um livro não tem relevo, perco a paciência para prosseguir com a sua leitura.
8 - Indica alguns dos teus livros preferidos.
De Profundis, Valsa Lenta do José Cardoso Pires. Descreve muito bem as fragilidades da vida em contraponto à força de viver. O prefácio à 1ª edição, da autoria de João Lobo Antunes, é, também ele, uma obra de arte dentro daquela que é considerada uma obra especial da literatura autobiográfica, com a particularidade de ter sido escrita na sequência da grave doença que “apagou” a memória do escritor; Lápides partidas do Aquilino – espantosas paisagens urbanas, no caso, Lisboa do início do século, a viver um ambiente pré-revolucionário que conduziria à queda da monarquia: a grande qualidade da criação literária aquiliniana contraria a opinião dalguns críticos, talvez em número cada vez menor, que lhe atribuem uma mera dimensão “regionalista”; Os Pobres de Raul Brandão; a Lírica de Camões [poeta, para mim, sempre o maior e tão actual]; Mensagem de Pessoa; O Búzio de Cós da Sophia; O Estado dos Campos do Nuno Júdice, o poeta que recupera a tradição romântica; Cartas a um Poeta, de Rilke; Divina Música, Antologia de Poesia sobre Música, representativa de alguns grandes poetas portugueses e dos países lusófonos.
9 – Que livros estás a ler?
Sôbolos Rios Que Vão do A. Lobo Antunes, logo no primeiro capítulo compreendo o que o autor disse, por ocasião do lançamento da obra «A gente não escreve porque tem coisas para dizer, a gente escreve porque quer escrever. E comecei a perceber que o que se quer escrever é aquilo que se perdeu»; Protecção das Sílabas, Antologia Poética de José Luis Puerto, um dos grandes poetas ibéricos da actualidade, que descobri numa recente ida à livraria da cidade, onde ainda gosto de me perder em busca de novidades.

Preparo-me para ler o Diário do Sebastião da Gama e o Livro de Horas II da Maria Gabriela Llansol, género literário de que também gosto.
Não é fácil ler nos dias de hoje. A vida moderna é tão agitada que importa “gastar” bem o pouco tempo de que se dispõe para ler. A boa poesia ajuda a cumprir esse desígnio. Tenho sempre à mão um livro: desde Camões, Sophia, Fiama, Pessoa, Gedeão, Torga, Nuno Júdice, Vasco Graça Moura, Ana Luisa Amaral, entre tantos outros, incluindo aqueles que, no mundo da blogosfera, nos surpreendem com belas obras de arte.
10 - Indica 10 amigos para responderem a este inquérito.
Amiga G-S do Fragmentos Culturais; Manuela Baptista do HISTÓRIAS COM MAR AO FUNDO; Isabel Maria do Luz de África; Elvira Carvalho do SEXTA-FEIRA; Fa menor do Retalhos e Rabiscos; Isamar do Cata-Vento; Fê-Blue Bird do SÓ TE PEÇO 5 MINUTOS...; e Pedrasnuas do sei_lá...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Maria Lúcia Lepecki

Morreu Maria Lúcia Lepecki - diz o jornal Público de hoje.

A professora e ensaísta brasileira, radicada em Portugal, faleceu ontem, em Lisboa, aos 71 anos, vítima de cancro. A notícia foi divulgada pelo escritor Baptista Bastos, que classificou Lepecki como “uma ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa”.
Professora catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa… ao longo da sua vida colaborou em vários jornais e revistas, tanto em Portugal como no seu país natal, nomeadamente a Colóquio Letras e o suplemento literário do Estado de S. Paulo.
A crónica que, sob o título A vida íntima das palavras assinava na revista Super interessante, constituía um belo e raro momento de sabedoria, com que mensalmente nos brindava. Em sua homenagem selecciono um pedaço da crónica Que palavra? (saída em Março de 2011):

“Se os objectos a contemplar não provêm da concretude que nos rodeia – e isso inclui do sofá da sala ao quadro de Rafael –, se não provêm daquilo que a visão nos mostra, o tacto nos define, o olfacto nos classifica, de onde provirão eles? De um único sítio: do mundo das palavras. Só elas nos podem ensinar a ver Rafael, a apreciar uma mesa Chippendale, a discernir a dramática humanidade de O Pensador de Rodin. Deve perguntar-se se quaisquer palavras cumprem esta função. A resposta é negativa, como qualquer dos meus leitores amadurecido nas lides da comunicação artística já percebeu. Uma única palavra pode transmutar o objecto físico – quadro de Rafael, mesa de Chippendale – em qualquer coisa digna de contemplação no espaço quase sagrado da mente do “homem bom”. Esta palavra é a literária, pela sua capacidade de dizer para além do dito, de mostrar para além do visto, de suscitar à sua volta aquele jogo de sombras e luzes que define, antes de qualquer outra coisa, a natureza misteriosa, por isso mesmo divina, do verbo que incarna em cada um de nós quando trazemos do mundo para a mente aquilo que, provocando meditação, garante a todos e a cada um a realização plena da sua humana natureza.”
Até sempre, MLL!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vive as vidas

VIVE AS VIDAS, UMA A UMA,
sem os sonhos confundir;
eu vou para baixo, para cima,
sou outro, sem outro ser.


Paul Celan
in "A Morte É Uma Flor"
(Poemas do Espólio)
Cotovia

Sempre existirá
o dia em que a jornada é mais dura!
Regresso à postagem que, ao contrário do que se possa pensar, afinal, faz falta.
Quem diria?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Festa

Sábado, a meio da tarde, levo o filhote à “festa de aniversário” do amigo, colega de classe.
Um percurso de quarenta quilómetros para a aldeia da Corredoura, lugar onde se situa a quinta, propriedade da família do aniversariante, em plena região de Lafões.
Chegamos. O palco da celebração está emoldurado por vegetação: muitos verdes, água e espaço para jogos ao ar livre... coisas cada vez mais raras. Diria até, uma preciosidade, já que, nos dias de hoje, a maior parte das festas, deste tipo, são efectuadas no interior de centros comerciais e quintinhas “temáticas” (nome pomposo para esconder misérias imaginativas; já nem falo daquela ideia de “encafuar” as crianças dentro duma sala de cinema), nada apropriadas aos fins a que se destinam .
Mal chegámos, o filhote, num ápice, desapareceu, no meio de inúmeras crianças, a coberto da Mãe Natureza, ali com tão ricas manifestações.
- Fique… muito gostaria… que participasse.
- Não, obrigado! A festa é para os filhos – e saí em direcção ao carro.
Atravesso a rua empedrada e, num relance, olho para o horizonte: lá longe, a serra e os povoados dispersos, um regalo para os olhos. Observo então, a poucas dezenas de metros, um apeadeiro.
- Afinal, ali tão perto, a extinta e saudosa linha do Vale do Vouga!
De imediato a memória me fez recuar no tempo…, levou-me algures, até ás entranhas daqueles montes e vales, onde passara as férias da minha infância. O meio de transporte era o comboio. Os passageiros eram largados no apeadeiro, que, a partir dali, tinham que calcorrear dois quilómetros para chegar ao destino - a “casa do capitão” , na quinta do Faleiro. Um lugar próximo do rio, bucólico, paradisíaco.
Incrível, a memória: vejo à minha frente o menino do Faleiro que acorda com o chilreio dos pássaros. Levanta-se, reza a oração matinal, corre em direcção ao rio, mergulha na água fria e joga com os colegas à “bola dos quadrados”.
Incrível, como me acompanha pela ponte do tempo!
No final da tarde, apresento-o aos convivas.
Ninguém o reconhece.
Mas, a ponte do tempo conta agora com, pelo menos, mais um transeunte.
Coisa simples que liga a vida!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cegonhas guerreiras

O espectáculo impressiona: cegonhas e mais cegonhas, na auto-estrada! Umas, em pleno voo, outras nos seus ninhos, implantados no cimo dos pórticos da sinalização e dos postes de energia de alta tensão na margem da via.
E ali vivem, impávidas e serenas, completamente alheias ao intenso tráfico rodoviário.
Delas me apercebi, há cerca de dois anos. Um regalo, todos os dias, de manhã, em deslocação para o trabalho e, no final do dia , de regresso a casa.
No início do primeiro Inverno, esperava que, pela natureza migratória, partissem em direcção ás terras quentes, do Norte de África, fugindo dos invernos rigorosos da região.
Mas, não!
Entrámos na estação fria, e, apesar das intempéries, vendavais... elas ali permaneciam, seguras, belas, perseverantes e sem sinais de fraqueza.
Surpreendentemente, passaram ali todo o Inverno.
Chega a Primavera.
- Bem,
pensei,
talvez a actual crise climática tivesse confundido o instinto dos animais, de tal modo que já não distinguiam as estações do ano!
ou a suavidade dos invernos tornou desnecessária a migração das aves?!
O certo é que, no inverno seguinte, lá continuavam elas, firmes no seu local adoptado para viver ininterruptamente.
Eis senão quando, determinada manhã, gélida e cinzenta, desapareceram os ninhos e os seus habitantes! Uma razia, sem deixar rasto.
Teria sido o vendaval que os derrubara?! Talvez. Por que não, se eles são, aparentemente, tão frágeis?
Achei estranho, mas, aceitei a dura realidade: um desastre!
Como seria agora, no futuro, ver-me privado daquela pequena maravilha que diariamente me era oferecida pela natureza?
Mas... no dia seguinte, surpreendentemente, verifiquei que, à margem da via, se erguiam cinco postes coroados, artificialmente, com ninhos semelhantes aos naturais. Como é que eu nunca me tinha apercebido da sua existência? Só poderiam ter sido ali colocados, naquela altura!

Curioso, olhei atentamente para os pórticos, e constatei que exibiam, a todo o comprimento, arame farpado.
- Querem tirá-las dos pórticos, e deslocalizá-las para a margem da via.
E era.
Apenas duas ou três cegonhas sobrevoavam os céus. A maior parte desapareceu misteriosamente.
Pobre auto-estrada.
Os dias foram passando, até que, paulatinamente, começaram a aparecer de novo, pousando nos pórticos, ainda despidos das belas obras de arte.
Transportam nos seus fortes bicos fragmentos de ramos secos e outras substâncias que depositam engenhosamente nas traves e painéis de sinalização. Ramo sobre ramo, constroem de novo seus ninhos, ludibriando completamente os intentos do homem.
Regressou a vida àquele local.
Em plena primavera, os ninhos enchem-se de filhotes que espreitam para este mundo acelerado dos automóveis e da poluição.
Vitória! - gritam
Segundo lenda popular, é por meio dessas aves que os bébés chegam aos pais.
Na infância, contaram-me que tinha vindo de Paris no bico duma cegonha!

Quem é que, agora, não acredita?

domingo, 1 de maio de 2011

Mãe

A minha mãe

O pai partira para a sua última Viagem.
Tanta dúvida: como seria a vida, na sua ausência? Como seria a Natureza, que passei a ver diminuída, mutilada, privada do seu melhor membro?
Sem nunca ter obtido resposta, achava que era feliz por ter a mãe na minha companhia!
Mas eis senão quando, menos de 365 dias depois, também ela é chamada.
30 de Março de 2009, foi o dia.

O dia em que, surpreendentemente, nunca me senti tão próximo de minha mãe.
O dia em que, finalmente, percebi o quanto ela me amava.
O dia em que percebi, também, o quanto amava os seus entes mais queridos, todos!
Uma grande lição de vida! que nunca mais esquecerei.
Mãe é única.

É árvore que cresce, floresce, dá fruto e renasce com a Primavera, ano após ano. Por isso achamos que é eterna.
Mas, paradoxalmente, partiu!
Julgava que tudo se tinha acabado!
Mas, não. Puro engano.
Hoje está mais presente do que nunca!

Acreditem que é mesmo assim!
Ainda há pouco meus filhos ofereceram à mãe um belo ramo de flores.
De rosas vermelhas - a cor de que ela mais gostava.
Logo hoje, em plena Primavera!
Eu não dizia?!
Lá está.
A mãe sempre presente!

domingo, 24 de abril de 2011

Avezinhas há pouco nascidas

Inícios de Abril.
Descobrimos o ninho nas traseiras de casa. Na altura apenas tinha um conjunto de ovos. Nunca mais o perdemos de vista. Várias vezes por dia observávamos a ave que "chocava" os ovos. Até que, no dia 15, surgiram estas belas e frágeis avezinhas. Que agora são a nossa mais recente companhia.
Extraordinário! A natureza no seu mais belo esplendor.









vídeo do Celso Miguel e Petrus

sábado, 2 de abril de 2011

principe russo

No Natal, o Menino Jesus contemplou o meu filho mais velho com um belo hamster que,de imediato, toda a família adoptou. "Principe russo" passou a chamar-se. "Principe" pelo lugar que passou a ocupar no seio da família e "russo", devido à sua origem, algures nas longínquas estepes russas.
Tomámos conta dele, com imenso desvelo.
Observámo-lo, ora recolhido no seu fôfo ninho, ora em correria nas suas habilidades, cheio de genica, sempre com um enorme prazer.
Apegámo-nos, todos, a tão elegante e simpático "bicho", que, ao fim de escassos meses, já não podíamos viver sem ele.
Hoje, envolto numa branca nuvem, partiu.
Agora, agora tomará conta de nós no Além.
Mistérios de partir o coração.

terça-feira, 29 de março de 2011

Música da Primavera


O 4º Festival de Música da Primavera de Viseu [parceria da Câmara Municipal e Conservatório de Música Dr. José Azeredo Perdigão], prossegue hoje com mais um concerto, pelas 21h30, nos Paços do Concelho.

Cabeça de cartaz: SUI GENERIS ENSEMBLE, Música de Cãmara.

Programa: "Fantasia" de Gabriel Fauré, com Ziliane Teixeira [flauta transversal] e Cheisa Goulart [piano]; "Cinq Danses exotiques" de jean Françaix, com José Eduardo Magalhães [saxofone]; "Choro" de Benny Wolkoff, com Luís Rocha [fagote]e Cheisa Goulart [piano]; "Vocalise" de Serge Rachmaninof, com Vânia Moreira [violoncelo] e Cheisa Goulart [piano]; "Quarteto para flauta transversal, saxofone alto, fagote e violoncelo"; "Memórias (tríptico)" de Pedro Iturralde.

Obrigatório.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Tempo fluvial



Imagem seleccionada do blog "A a Z"
http://www.aaz-nj.blogspot.com


Sábado, dia de inverno pegado, vem-me à memória o poema tempo fluvial de Nuno Júdice, por ele publicado no seu blog em Agosto de 2008.

Muitas vezes o li. Releio-o. Nele descubro a mais bela página!
*
Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens do céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.
Nuno Júdice