segunda-feira, 7 de junho de 2010

Valha-nos a bomba

O Mundo
dos Outros

coluna de José Cutileiro

As pessoas e os países devem estar sempre preparados para se defenderem de quem lhes queira fazer mal. Nem sempre conseguem: ao longo da história, povos inteiros - ou grupos perseguidos dentro de cada povo - sofreram, e, nalguns lugares, continuam a sofrer horrores. Antero de Quental esperava que a razão (e o irmão e a irmã dela - o amor e a justiça) fizesse prevalecer a virtude mas acabou desencantado: aos 49 anos meteu duas balas na cabeça num jardim público de Ponta Delgada.
Mesmo quem sobreviva à morte natural, sabe que não se pode distrair, e hoje, depois das catástrofes que os europeus causaram a si próprios e ao resto do mundo indo para a guerra em 1914 e 1939 e, sobretudo, dos "avisos à navegação" que foram Hiroshima e Nagasaki, as duas únicas cidades até agora destruídas por bombas atómicas, as nações têm muito mais cuidado do que alguma vez tiveram a tratar umas com as outras.
Que a guerra fria da segunda metade do século passado não se tenha transformado em guerra quente ficou a dever-se à existência dos arsenais nucleares americano e soviético.
Que nos dias de hoje a crise financeira e económica não tenha levado a mobilizações gerais, corridas a aramamentos e retóricas belicistas, deve-se a hábitos de relações pacíficas entre as potências impostos, em última análise, pela presença continuada de arsenais nucleares (aqueles e outros). Por isso, se procurardiminuir a quantidade de armas nucleares existentes - como americanos e russos estão a fazer - e impedir a sua proliferaçãoa a países que não as tenham são tarefas necessárias e urgentes, acabar com elas seria um erro crasso.
A natureza humana não mudou muito ao longo da História e em pouco tempo países que julgavam ter posto a guerra de parte recorreriam de novo a ela.
(...) Barack Obama tem mostrado mais bom senso do que ideologia. Mas pode haver um lado "escuteiro" nefasto nas relações dos Estados Unidos com o resto do mundo. Às vezes também é preciso defendermo-nos de quem nos queira fazer bem.
In Primeiro Caderno do jornal Expresso de 22 Maio de 2010

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